Um dos grandes impulsos para a produção em escala multiplicada de agrotóxicos, no século XX, foi o medo da fome mundial, nutrido pela Teoria Malthusiana, elaborada cerca de 150 anos antes, que dizia que a população do mundo cresceria em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética. Por vários fatores, como a modernização de técnicas de produção agrícolas, e, a posteriori, o uso dos agrotóxicos, essa teoria não se concretizou, mas mudou o rumo da produção alimentícia no mundo. No campo, a dúvida sobre a diferença entre veneno e remédio sempre foi persistente.
Os agrotóxicos começaram a ser fabricados e utilizados em grande escala como armas químicas durante as duas guerras mundiais, especialmente na segunda. Alguns eram usados como desfolhantes, o que facilitava avistar o exército inimigo escondido nas florestas, outros como o DDT (1,1,1-tricloro-2,2-di(ρ-clorofenil) etano), que foi amplamente usado para combater piolhos que causavam doenças. Porém, em 1945, com o fim da segunda guerra mundial, as indústrias químicas precisavam usar o que foi produzido para a guerra em outros setores. Com isso, esses agentes químicos foram inseridos no agronegócio como o que hoje se conhece como os agrotóxicos – colaborando, então, com a preocupação mundial em torno da quantidade de alimentos disponíveis.
Segundo a Lei n° 7.802, publicada em 11 de julho de 1989 no Brasil, também conhecida como “Lei dos Agrotóxicos”, em seu art. 2°, inciso primeiro, alínea “a”, agrotóxicos são “produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos”.
Por vezes, os agrotóxicos são vistos com maus olhos, como os grandes vilões da agricultura. Apesar disso, o crescente uso é justificado principalmente porque esses produtos apresentam resultado rápido e quase sempre eficientes – o que os torna ineficiente é o uso inadequado, causando resistência e forçando o uso de doses cada vez maiores ou de produtos de maior grau de periculosidade –, além disso, facilitam que a cultura exprima seu potencial máximo, já que a competição e/ou ataques de pragas e doenças são reduzidos.
Diante do que foi apresentado, é possível perceber que assim como toda e qualquer tecnologia, existem benefícios e malefícios no uso dos agrotóxicos. O principal ponto que deve ser levado em consideração é o manejo adequado desses químicos. Para utilização desses produtos, é necessário o receituário agronômico – desconhecido ou ignorado por muitos produtores e comerciantes –, que deve conter informações sobre a propriedade, a cultura e o diagnóstico da praga ou doença.
É importante levar em conta que existem outras formas de controle de pragas e doenças, como o manejo integrado de pragas (MIP), que deve ser feito junto com um planejamento agrícola.
É de suma importância o acompanhamento de um profissional capacitado para orientar não só ao que tange o MIP, como para indicar o produto químico que é recomendado para cultura. Ademais, é importante uma orientação correta sobre o uso dos agrotóxicos, equipamentos de proteção individuais (EPI’s), dosagem e descarte de embalagens. Isso tudo, para que ao mesmo tempo em que a produção apresente seu máximo, não haja prejuízos ao meio ambiente e às pessoas que consumirão o produto final. Quase sempre, a sutil diferença entre veneno e remédio é a dose de uso e a consciência de quem consome.
Referências: BRASIL. Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7802.htm> Acesso em 28 de junho de 2020.
Autora: Barbara Silva.
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